sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Mudança de hábito

Raquelzinha está muito estranha ultimamente, quase irreconhecível. Tá certo que ela sempre foi meio arrogante, mas agora anda humilhando as pessoas. Pecado imperdoável no nosso mundo, pois o troco vem em dobro, e muito rápido!
A última que ela aprontou foi com ajuda do Escort vermelho. Os esgotos ficam a céu aberto aqui na fava, até que alguma autoridade ponha vergonha na cara e enxergue essa sujeira que inunda as casas em dias de chuva.

A mina, em um de seus dias de fúria, andava em uma velocidade que não é permitida num local como o nosso, passou numa das muitas poças de esgoto aberto e jogou água podre na avó do Roger. A velha tinha uns 88 anos e escorregou no barranco após o desequilibro. O tombo lhe rendeu um braço e uma perna quebrada. Como ela mesma resmungou depois, seus ossos já não são como antigamente!

As más línguas dizem que Raquel estava drogada. A velhinha desceu o barranco de bunda, virou o braço e a perna, os óculos voaram longe, soltou um grito abafado pela falta de força, seus cabelos grisalhos ficaram sujos de lama e restos de esgoto. Um moleque que brincava com seu carrinho de plástico chamou sua mãe após o susto que levou.
Quem tava na rua se revoltou com o pouco caso e desrespeito de Raquel. Roger soube da conversa após chegar da escola.
- A minha avozinha querida. Disse, já vermelho de raiva.
- Aquela mina tá fodida!!!
A velha foi internada e quase morreu, afinal, sua idade já não permitia certas brincadeiras.
Raquel tava mexendo com brasa quente. Alucinada, caiu de joelhos no velho truque do mágico de Oz.
Será que Big-Joe não ensinou a ela que não se deve cair em tentação? É o que todos se perguntaram, mas o caso era outro. Raquel também sabia o mal que fazia a fórmula da felicidade.
Descobri que era esse o mal que ela desejava, por pior que fosse, o importante era dar algumas horas de distância do mundo em que vivia.
Quem diria, a família da bela não era perfeita e viraram feras à solta. Era uma fase difícil para a menina que sempre foi mimada. O pai de Raquel havia encontrado a esposa, mãe de Raquel, com um amante em sua própria casa. Espancou a mulher como se fosse um bicho. Desolado, após a fuga da mulher com o Ricardão, passava os dias a beber em um dos muitos botecos do bairro. A pose de Raquel, após toda essa história ter rodado na boca do Zé povinho, caiu como fruta podre.
Ela não tem muitos amigos, e nessas horas não teve nem um ombro para chorar. Dizem que ela foi vista chorando atrás da escola, mas, dizem, e, de pessoas que dizem o mundo tá cheio.


Senti um aperto, as lágrimas dela me doíam também. Apesar do tempo, ainda sentia algo por Raquel, talvez pena agora. Mas não havia o que fazer, sem contar que era uma minazinha muito orgulhosa para dar o braço a torcer, seja para quem fosse.
Raquel estava sofrendo muito com toda essa história. Abatida, e sem o brilho nos olhos que outrora iluminava meus caminhos. Acreditava que era simples amenizar os problemas, ver flores dia e noite, sem nenhuma tristeza, nada para lhe fazer chorar ou brigar: caiu de boca na cocaína. Mas deixo claro, meu caro leitor, que nenhuma merda que acontece em nossa vida nos dá o direito de humilhar ou maltratar as outras pessoas, e é por isso que tudo que fazemos nos traz conseqüências.
Essa droga destrói muito rápido, e faz algumas pessoas não medirem as palavras, o que é sentença de morte para todos na perifa!!! – Raquel se perdia de vez –.

Nenhum comentário: