Raquelzinha está muito estranha ultimamente, quase irreconhecível. Tá certo que ela sempre foi meio arrogante, mas agora anda humilhando as pessoas. Pecado imperdoável no nosso mundo, pois o troco vem em dobro, e muito rápido!
A última que ela aprontou foi com ajuda do Escort vermelho. Os esgotos ficam a céu aberto aqui na fava, até que alguma autoridade ponha vergonha na cara e enxergue essa sujeira que inunda as casas em dias de chuva.
A mina, em um de seus dias de fúria, andava em uma velocidade que não é permitida num local como o nosso, passou numa das muitas poças de esgoto aberto e jogou água podre na avó do Roger. A velha tinha uns 88 anos e escorregou no barranco após o desequilibro. O tombo lhe rendeu um braço e uma perna quebrada. Como ela mesma resmungou depois, seus ossos já não são como antigamente!
As más línguas dizem que Raquel estava drogada. A velhinha desceu o barranco de bunda, virou o braço e a perna, os óculos voaram longe, soltou um grito abafado pela falta de força, seus cabelos grisalhos ficaram sujos de lama e restos de esgoto. Um moleque que brincava com seu carrinho de plástico chamou sua mãe após o susto que levou.
Quem tava na rua se revoltou com o pouco caso e desrespeito de Raquel. Roger soube da conversa após chegar da escola.
- A minha avozinha querida. Disse, já vermelho de raiva.
- Aquela mina tá fodida!!!
A velha foi internada e quase morreu, afinal, sua idade já não permitia certas brincadeiras.
Raquel tava mexendo com brasa quente. Alucinada, caiu de joelhos no velho truque do mágico de Oz.
Será que Big-Joe não ensinou a ela que não se deve cair em tentação? É o que todos se perguntaram, mas o caso era outro. Raquel também sabia o mal que fazia a fórmula da felicidade.
Descobri que era esse o mal que ela desejava, por pior que fosse, o importante era dar algumas horas de distância do mundo em que vivia.
Quem diria, a família da bela não era perfeita e viraram feras à solta. Era uma fase difícil para a menina que sempre foi mimada. O pai de Raquel havia encontrado a esposa, mãe de Raquel, com um amante em sua própria casa. Espancou a mulher como se fosse um bicho. Desolado, após a fuga da mulher com o Ricardão, passava os dias a beber em um dos muitos botecos do bairro. A pose de Raquel, após toda essa história ter rodado na boca do Zé povinho, caiu como fruta podre.
Ela não tem muitos amigos, e nessas horas não teve nem um ombro para chorar. Dizem que ela foi vista chorando atrás da escola, mas, dizem, e, de pessoas que dizem o mundo tá cheio.
Senti um aperto, as lágrimas dela me doíam também. Apesar do tempo, ainda sentia algo por Raquel, talvez pena agora. Mas não havia o que fazer, sem contar que era uma minazinha muito orgulhosa para dar o braço a torcer, seja para quem fosse.
Raquel estava sofrendo muito com toda essa história. Abatida, e sem o brilho nos olhos que outrora iluminava meus caminhos. Acreditava que era simples amenizar os problemas, ver flores dia e noite, sem nenhuma tristeza, nada para lhe fazer chorar ou brigar: caiu de boca na cocaína. Mas deixo claro, meu caro leitor, que nenhuma merda que acontece em nossa vida nos dá o direito de humilhar ou maltratar as outras pessoas, e é por isso que tudo que fazemos nos traz conseqüências.
Essa droga destrói muito rápido, e faz algumas pessoas não medirem as palavras, o que é sentença de morte para todos na perifa!!! – Raquel se perdia de vez –.
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