quinta-feira, 10 de abril de 2008

Julgamento escolar

Sabe mano, minha escola era um barato, o Tenente Ariston, grandes lembranças, lá eu conseguia viver aventuras chocantes, a galera quando se reunia dava trabalho para a direção, mas dizem que tudo isso fazia parte do crescimento, aprender com os erros e descobrir que as conseqüências podiam castigar feio. Sei que não éramos santos, mas estavam nos pintando como capetas. Tive minha ficha suja naquele ano, cabulei aulas, me envolvi em brigas alheias, realmente extrapolei e até assinei o livro negro.

A turma do colégio descobriu a poperô, dança lagartixa que mesclava todos os ritmos musicais bem rápido. A galera parecia lagartixa em areia quente por conta dos movimentos. Os manos com calças boca-de-pizza, baby look, gel no cabelo ou topete e as minas de cintura baixa, boca-de-pizza e miniblusa, arrasavam no salão, pois em grupo formavam um misto de black music com discoteca. As outras tribos os odiavam, pois eram metidos e se achavam os maiorais nos concursos de dança em danceterias como a Ghost, Reggae Night, New Peoples, Palácio etc... Exemplo disso é quando eram encontrados, sozinhos ou em pequenos grupos, por punks, clubbers e outros, e eram obrigados a correr quilômetros, ou se quisessem enfrentar, apanhavam ali mesmo, por não terem técnicas de briga de rua como as gangues que em vez de dança treinavam lutas.

Foi um ano de aventuras, catei muitas minas, me enjoei rápido delas, pareciam todas iguais, que não se importavam com nada, aproveitávamos somente o momento. Mas ficar com qualquer uma não era legal, quando o dia acabava, eu ficava pensando em tudo que havia feito, daí vinha o remorso: será que alguma mina se apaixonou?

Um fato daquele ano de 1997 ficou na memória de todos. A turma da 8ª série D ficou famosa no Tenente por ter reunido no mesmo ano os piores alunos (no quesito bagunça e desordem) daquela série, numa mesma sala. Esse título foi adquirido por estes alunos após uma carreira promissora desde a quarta série. Eram eles o Fabiano, o Ratinho, Gilson, Alessandro, Michele, Flávia, Sandrinha, Luciana, Luis Zeferino e outros que eram menos bagunceiros, mas que juntos completavam a galera do barulho, como o Luis , Edmilson, Cristian, Nego e a Juliana Vigatti.

Estávamos no meio do ano, e os professores não agüentavam mais a bronca, não conseguiam domar aquelas feras.

Lembro-me até hoje da professora Marlene, que dava aulas de Biologia. No meio da aula a Flávia resolveu se estranhar com a Michele, e até cadeiras voaram no meio da briga, as duas rolaram no chão e o motivo até hoje eu não sei direito, mas a pobre professora entrou em desespero e tentou apartar a confusão, depois foi buscar ajuda na Direção. A sala foi ao delírio, afinal briga de mulheres não deixava de ser um espetáculo. Mas devido a tantas confusões seguidas, os professores começaram a renunciar às aulas na nossa turma, e a dona Elaine teve que interceder dando a idéia de um julgamento popular para tirar os alunos que mais atrapalhavam no rendimento da sala.

As ameaças já começaram assim que o tal julgamento fora anunciado. Cada aluno seria responsável pelo voto que tiraria esses causadores de confusão, e todos deveriam dizer isso em voz alta perante os réus (imaginem o medo de muitos da sala, sabendo quem eram as encrencas e ser obrigados a dizer a verdade). A Tanícia era a mais covarde, a Flávia havia lhe dito que se votasse contra ela, receberia o troco na rua. Pobre dela, tão pequena e magrinha, tinha o apelido de Pulguinha.
O julgamento aconteceu no meio da aula, e o professor Adil foi convidado para ser o advogado de acusação (a parte ruim é que ele não conhecia a maioria dos alunos e, portanto, não tinha argumentos verdadeiros contra ninguém, mas isso não foi avaliado). Advogado para defesa nem foi cogitado, afinal éramos o mau exemplo da escola. A dona Elaine e a Zezé estavam presentes também. Uma grande roda foi feita com as cadeiras, a acusação ficou ao centro, e cada aluno deveria dizer quem gostaria que saísse da sala para a turma melhorar. Antes disso, o professor Adil rasgou o verbo e falou mal da sala, do quanto éramos mal-educados, sem responsabilidades, e não tínhamos senso do ridículo por agir como crianças de primário. (Muitos ali não mereciam ouvir tais palavras, mas isso também não foi avaliado.) O medo de todos estava presente em cada olhar...

Outra hora eu conto o final dessa história

Um comentário:

Anônimo disse...

velho, nem vou contar como vim para aqui. estava procurando umas referências e encontrei esse blog. Vc cita uma garota que estudou com vc e que era uma das minas do barulho. sem ter o que fazer, resolvi pesquisar o nome na net: saiu direto, a primeira. como sei? pela escola que vcs estudaram. achei a coincidência foda. ela deve ter aprendido a lição pq virou evangélica.
Só isso. valeu pelas informações que vim buscar sobre outras coisas...