quinta-feira, 13 de março de 2008

O coração bateu mais forte e as pernas ficaram bambas

O ano já está acabando, mais uma vez, e o que me espera não ouso pensar, mas acho que não vou morrer, já passei da data que tanto temia. Aos dezesseis anos tinha a certeza de que ia morrer, tava viciado por uma música do Legião Urbana, 16, e como o João Roberto, tinha os dias contados.

Aquela besteira de paixão dominou meu físico e minha mente, acreditei que ia morrer de amor até os dezesseis, a mina chamava-se Raquel, era linda, como nunca havia visto em toda a minha vida, todos eram loucos para ficar com ela, mas só para zoar, ninguém queria levar nada a sério, eu estava apaixonado, ela só tinha 14 anos. Em sua festa de quinze, convidou uma renca de gente, menos eu (sei lá por que, leitor), seus olhos verdes como duas esmeraldas me fascinavam, seu cabelo sedoso que ao passar deixava um gostoso perfume de xampu, aliás, até hoje não descobri qual. Era mais baixa que eu, com um corpo violão arrancando suspiros quando passava, mas tudo o que tinha de bonita tinha de arrogante e ambiciosa, queria crescer na vida a qualquer custo, eis o seu maior defeito.

Raquel me enfeitiçava como uma fada misteriosa, tomava conta de meus pensamentos. Certa vez, ao falar com ela, cheguei a ficar gago, ela me ignorou e riu sem dó, nunca falei a ninguém, mas dava para ver em meus olhos, virei um trouxa sem igual, creio que superei até os bobos da corte, das aulas de história do professor Moacir, que ao menos ganhavam para fazer papel de palhaço. Cheguei a escrever cada poesia melosa, ainda bem que jamais fui capaz de entregar, ela já estava fascinada pelo dinheiro e incapaz de se deixar levar pelas coisas do coração. O último cara que Raquel ficaria seria o pé-rapado do Cassiano.



Fosses tu na madrugada

No clarão de minha saga

Nasceste para sofrer

Ou simplesmente para morrer.

Aqui estou

Para te amar a vida inteira

Acabar com a solidão que sempre te rodeia.

Desprezaste meu amor

Que para ti não vale nada

Em mim sinto calor

Em você frieza amarga.

Queres sofrer

Fique sozinha

Não faça do amor um simples capricho

Esse sentimento lindo

Foi feito para se viver

Não jogue fora o amor

Que sinto por você.

Seu tempo está acabando

Os minutos vão passando

O relógio da luz divina

Marca a hora certa

Aproveite o fim da vida

Pois a seta é a meta.

Esqueça seu passado

Está aberto seu caminho

Abra seu coração

E sorria

Pois até a aura mais pura do mundo

Bate de frente com um labirinto.

Assinado, seu amigo,

Meu amor impossível!

A Enovi (minha amiga desde o primário) é muito inteligente, lê muito, e nos altos papos que temos, ela ensina algumas das muitas palavras difíceis que aprendi, ela passa o lado poético da vida. Sabe, leitor, mesmo sem nunca ter lido nenhuma obra de poesia de autores como Álvarez de Azevedo e Castro Alves, às vezes também me vêm palavras bonitas na mente, talvez alguns nasçam com um dom divino, e mesmo sem conhecer os significados das palavras, elas chegam, e tenho a certeza que se encaixam perfeitamente com o que quero dizer.

Às vezes falo da besteira que é o tal amor, amor que nunca me é correspondido. Dificilmente gostamos de quem gosta da gente. Para alguns demora, para outros o dia de estar ao lado de quem ama nunca chega. E a culpa é de pelo menos um dos sete pecados capitais. Há quem diga que é belíssimo, droga, ainda não tive esse gostinho.

Minha primeira paixão foi a Jussara, professora do primário. Ela era linda, cabelos castanhos encaracolados e até o ombro. Era alta, e o Cassiano seu aluno predileto (ela quem dizia). Me tratava tão bem, um dia melhor que o outro. Foi minha professora por dois anos seguidos. Ainda era minha paixão quando veio a tragédia. Jussara morreu num acidente de carro com o marido e o filho de três anos. Foi horrível. Os comentários sobre o estado dos corpos eram de dar pesadelos. Fique sem sair do barraco por uma semana. Meus irmãos riam das minhas lágrimas, mas era inútil, nada me continha. Um pentelho de nove anos que chorava pela namorada professora, que piada, mas como sofri naqueles meses, a minha namorada nunca mais estaria ali, para me dizer:

- Bom dia Cassiano, como vai o meu menino?

Nem minha mãe me dizia aquilo, tinha medo de nunca mais ouvir tais palavras. Taí, nunca mais ouvi mesmo.

Dizem que quando um rico se apaixona, vive um mundo de ilusões, cobiça, mentiras e conveniências. Por isso, contemplo minha paixão platônica simples, mas verdadeira por Raquel, a maravilhosa morena de olhos esmeralda, olhar profundo que esconde um passado de muitos mimos, e um futuro de muitos tiros e sangue.

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