quinta-feira, 20 de março de 2008

Princesas do jardim

Quando elas passam os manos já preparam as cantadas, e as chamam de princesas, e elas abrem um grande sorriso.

Há dias em que a mulherada cai matando nos manos e o que as atrai pode ter vários motivos: Talvez a grana sem miséria, os carros novos, as motos poderosas, as festas, o poder que o olhar ou as palavras desses manos possuem sobre os outros, a chance de conseguir coisas com maior facilidade, a lábia de 71 que às vezes convence até que o Diabo é inocente, a carência familiar, a falta de estrutura dentro de casa, ou simplesmente pela aventura de sair com um mano fora da lei que diz com voz mansa enquanto a menina desfila pelas ruas:
- Bom dia princesa, como você é linda, hein!
Luíza, uma garota aqui do bairro, desde os 9 que planeja a sua festa de 15 anos. Os pais dela não poderiam gastar muito, o luxo não reinaria para a princesa Luíza, mas ela não ficaria sem o sonho tão esperado.
O local escolhido foi o salão de festa do prédinho da Cohab. Lá morava Marquinho, o namorado da Luíza. A mina é firmeza, convidou toda a galera, Ricardo, Jobson, Meg-Lu, Juninho, Enovi, toda a turma da escola, e a minha princesa Raquel.

Raquel era o oposto de Luíza, mas estava tão linda quanto; vestida de preto marcando o corpo num vestido até o joelho, cabelos presos deixando seu rosto de deusa à mostra, me fazia esquecer todas as suas má-criações. Se eu pudesse, caía de joelhos sem vergonha.
- Ah, seu eu pudesse!
Estava maravilhosa. Os marmanjos do bairro babavam, secando-a dos pés à cabeça.


Aquela noite foi inesquecível, parecia um desfile de moda, todos colocaram suas melhores roupas, para dar presença nas fotos. Nossa festa de gala. As minas de salto alto, os manos de social, até gravata colocaram, mas como não eram tão sérios, as gravatas possuíam um desenho animado; Tasmânia agora é moda, Pernalonga, Piu-Piu, tudo nesse naipe ilustrando as gravatas. O som maneiríssimo de todas as décadas, tocou de Charles Brow até o Raça Negra que reinava nas paradas. O sambinha no pé das minas chegava a ser engraçado porque muitos já curtiam rap. Luzes piscavam, muita cerveja e guaraná, buraco quente para encher a pança de quem não havia jantado, 98% dos que estavam ali (ninguém tem o costume de jantar antes de ir a uma festa).
Ricardinho embebedou-se até a alma, Juninho sem comentários, também não resisti, era dia de festa e todos deviam comemorar, arrisquei até dançar Bee Gees, que mico! Engraçado como todos criam coragem depois de alguns goles, desafiando perigos, isso pode ser fatal. Não me importei com nada nesse dia, há muito não me via tão corajoso e alegre, Raquel dava uns beijos em um cara, fiquei puto da vida, aquela mina tinha que ser minha e de mais ninguém. Fui até eles, empurrei o cara, peguei Raquel pelo braço, dei-lhe um beijo desentupidor de pia, e em seguida veio o tapa, seguido, é claro, da porrada do mano. Eu nem liguei, aquele beijo foi tudo para mim, nunca havia visto estrelas, eu nem senti a dor, nunca vi tantas estrelas juntas, estrelas do beijo, do tapa, mas não tantas como as da porrada. Sua boca macia e doce valeu pela porrada, estava tão tonto que não consegui levantar do chão, sem forças como um bobo, estirado e ainda por cima com um sorriso enorme estampado na cara. Os amigos foram chegando e me rodeando, riam, Ricardo soltou uma gargalhada, seguida da escandalosa de Carlitos, tão grande que voltei à consciência, o Lê me estendeu a mão e disse:
- Se não me engano, foi de joelhos que prometeu cair pela Raquel. Mulheres... A que ponto, Cassiano, levanta amigo!
Saí com o braço no ombro dele rindo do que fiz!

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